domingo, 1 de janeiro de 2012

ATUALIZAÇÃO: ECG NO ATLETA JOVEM


Foi recentemente publicado na CIRCULATION um relatório especial sobre a interpretação do ECG NO ATLETA JOVEM (1). Com base neste artigo, escrevemos o seguinte texto.
O ECG no atleta pode exibir várias alterações como manifestações do tônus vagal aumentado (bradicardia sinusal e pausas, bloqueio AV de 1º grau, BAV de  grau tipo I), voltagem aumentada do QRS, ondas Q profundas, repolarização precoce. Tais alterações são causadas pelos efeitos fisiológicos do condicionamento físico, como o tônus vagal aumentado. Em uma série de 658 atletas, foram encontradas alterações eletrocardiográficas em 62% dos homens e 32% das mulheres, sendo que em 10% dos casos as alterações foram consideradas como possivelmente relacionadas a doença cardiovascular (2).

A voltagem aumentada do QRS isoladamente não deve ser usada como critério para hipertrofia ventricular esquerda (3).  O desvio para a direita do eixo elétrico do QRS no plano frontal é um achado comum, sendo aceitável um eixo entre -30° e 115°. Para a diagnóstica de hipertrofia ventricular direita, em atletas com idade < 30 anos, os critérios de voltagem (como R/S >1 em V1) devem ser valorizados somente se associados a outras alterações, como aumento da amplitude de P (> 2,5 mm), inversão de T em V2-V3 e desvio do eixo para direita.

Frequentemente é uma tarefa difícil estabelecer a diferença se uma alteração é não patológica, fazendo parte da normalidade para o atleta, ou patológica, por exemplo, manifestação de cardiomiopatia.

O relatório especial considera que a interpretação do ECG no atleta jovem deve ser guiada por critérios específicos para o atleta, diferentes do padrão normal que utilizamos como referência na população normal.

Com base no trabalho citado, enumeramos a seguir as alterações que exigem atenção e avaliação mais aprofundada:
1. Onda Q: > 3 mm de profundidade ou 40 ms de duração em qualquer derivação, exceto III, aVR, aVL e V1. O critério padrão de definição de onda Q patológica para o diagnóstico de infarto de miocárdio conforme definido na página 93, tabela 2 pode ser aplicado no atleta com idade > 40 anos.
 2. Onda T invertida: > 1 mm, exceto nas derivações III, aVR e V1 e também em V2, V3 nas mulheres com idade <  25 anos.
3. QRS: quando apresenta duração > 120 ms e eixo elétrico além de -30° e + 115°. O intervalo QTC é prolongado quando > 470 ms no sexo masculino e 480 ms no sexo feminino e considerado curto quando < 340 ms em qualquer atleta.
4. Arritmias: presença de fibrilação/flutter atrial, taquicardia supraventricular, BAV completo, ou ≥ 2 batimentos ventriculares prematuros no ECG de 12 derivações.

Os critérios para o diagnóstico do padrão de Brugada e displasia arritmogênica do ventrículo direito no atleta são também discutidos neste relatório.


REFERÊNCIAS:


1. Uberoi A, Stein R, Perez MV, et al. Special report: interpretation of the electrocardiogram of young athletes. Circulation 2011;124:746-757.
 2. Le VV, Wheeler MT, Mandic S, et al. Addition of the electrocardiogram to the preparticipation examination of college athletes. Clin J Sport Med. 2010;20:98 –105.
3. Rawlins J, Carre F, Kervio G, et al. Ethnic differences in physiological cardiac adaptation to intense physical exercise in highly trained female athletes. Circulation. 2010;121:1078 –1085.

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